bandeira da alemanha contra o sol

Quais são os vinhos consumidos em Kerb, a popular festa alemã?

Na semana passada, você viu aqui no I Love Vinhos sobre o pioneirismo alemão na produção de vinhos no Rio Grande do Sul. Hoje vamos abordar sobre os vinhos consumidos em Kerb, a tradicional festa alemã e contar um pouco da história da família Fritzen.

A relação de alemães e descendentes com a produção ou o consumo de vinhos e derivados de uvas é bem mais estreita do que muitas pessoas talvez imaginem. Os imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul antes dos italianos e produziram bebidas, apesar de enfrentarem outras condições climáticas e de relevo, produzindo em menor escala e inicialmente apenas para o consumo de suas famílias. Ou seja, nas festividades e celebrações era servido o vinho de fabricação caseira.

A comercialização a mercados começou posteriormente. Pode-se afirmar que se hoje existem vinícolas e distribuidoras de bebidas como a Werle Comercial, com sede na cidade de São Leopoldo que ostenta o título de berço da colonização alemã no Brasil, parte se deve ao pioneirismo desses pioneiros que chegaram a partir de 1824. No próximo dia 25 de julho serão comemorados os 197 anos da imigração alemã para o Brasil e a fabricação e comercialização de vinhos também é um de seus legados. “Aqui na Werle gostamos de celebrar a imigração alemã, porque esta é a origem da família que dá nome à nossa marca”, destaca a empresária Delci Werle.

“Obviamente vendia-se o vinho, no início, nas redondezas, a comerciantes ou particulares, garantindo para o Kerb, casamentos e outras comemorações familiares a bebida necessária”, consta num trecho do livro Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul: 1824 – 1934 (Cem anos de Germanidade no Rio Grande do Sul: 1824 – 1934), escrito pelo padre suíço Theodor Amstad.

 

A História dos Fritzen

A relação dos alemães com vinhos vem desde antes da imigração. Os Fritzen exemplificam bem essa proximidade, seja pela produção ou pelos hábitos de consumo, mantidos ainda hoje por muitos familiares. O imigrante alemão Johann Stephan Fritzen e a esposa Anna Catharina Conrad vieram com as filhas e um filho e chagaram ao Brasil em 1829. A família era oriunda do Vale do Rio Mosel, das cidades de Reil e Burg Mosel, onde predominava o cultivo de uvas e a fabricação de vinhos. Existem documentos em que o próprio Jahann Stephan declarou ser tanoeiro – que fabricava barris de madeira, que eram muito usados para armazenar vinho, além de outras bebidas e gêneros alimentícios.

Coincidência ou não, boa parte das gerações seguintes chegou a plantar uvas em solo brasileiro e fabricar vinhos, além de consumir a bebida em festividades.

Atualmente moradora de Farroupilha, Susana Fritzen é descendente de outros imigrantes da família que se fixaram no Vale do Rio Caí e recorda que o pai Arno Fritzen cultivava uvas e fabricava vinho na localidade de Piedade, em Bom Princípio. “Ele tinha em torno de 1 mil pés de uvas entre niágara rosa, niágara branca, acho que um pouco de bordô e uva isabel (imagem abaixo). E ele vendia no Mercado Público em Porto Alegre. Não lembro qual era o número da banca”, relata.

Uva Isabel

Segundo Susana, seu pai era muito exigente com a qualidade dos cachos. “Não podia botar a mão, pois daí já tirava aquela cerinha como se já tivesse sido manipulado. Ele fazia todo o raleio, dava um vento e ele já ia lá ajeitava as folhas, os ramos. Ele tinha o maior orgulho porque até o Natal já tinha a primeira uva. A vida dele era a parreira. E por muitos anos… Nem dava mais lucro, mas ele gostava e fazia isso”, relembra.

“No final do verão, ele colhia as uvas. Eu lembro ainda da carroça cheia de balaios. Era cheio de abelhas e a gente levava ferrões. Elas vinham porque eram (as uvas) muito docinhas. Entre a rosa, a preta e a branca, ele misturava tudo e fazia vinho. Tinha aquele moedor que não sei o nome, que era manual. A gente derramava os balaios de uvas em cima. Era um moedor em formato de cunha. Embaixo tinha um rolo que moía dentro de uma tina, onde ele deixava o líquido e depois fazia o vinho”, explica.

A mãe de Susana também fazia vinagre e armazenava em potes de pedra com tampas muito comuns na época para conservas.

“Já meu pai fazia o vinho e tomava todos os dias. Ele enchia uma jarrinha e levava até a mesa. Quando tinha visita, ele servia também um copo de vinho. Era um vinho assim nem branco, nem tinto, nem rosé. Era uma cor diferente, mas era muito bom o vinho dele. Todo mundo gostava e apreciava, mas ele não vendia, não dava. Quem quisesse, que tomasse lá com ele”, conta.

“Lembro que meu pai fazia também pra mim e deixava tomar um golinho, certamente meus irmãos também. Ele fazia o tal do sangari, que era um pouco de vinho com açúcar e água. Era uma delícia. A gente fazia também como refresco e levava para a roça”, recorda.

As comemorações com vinhos não eram somente privilégio dos Fritzen. Em Ivoti, as famílias Führ e Dilly – e outras de suas relações – preservam uma fotografia de sete moças ao redor de um barril de madeira. Os parentes afirmam que elas eram primas e o registro provavelmente tenha sido feito durante uma ocasião muito importante. Entre as mulheres estavam Lúcia Cristiana Dilly, e Maria Sibylla Führ (que anos depois casou com Pedro Augusto Fritzen). A imagem foi feita junto de uma casa, possivelmente por volta da década de 1930.

vinhos consumidos em kerb
Créditos: acervo pessoal

 

Sobre a Werle Comercial

A exemplo das vinícolas gaúchas, a Werle Comercial nasceu de uma tradição familiar. Desde 1986, a empresa atua no mercado de bebidas (espumantes, vinhos, destilados, sucos, e acessórios) em São Leopoldo. Há nove anos, o endereço passou a ser o bairro Feitoria, de onde são administradas as operações. A loja virtual werlecomercial.com.br entrega em todo o território nacional.

 

Por Moacir Fritzen – Jornalista

 

Veja também: Quais são os tipos de vinhos e suas diferenças?

Delci Werle é sommelière gaúcha, casada, mãe de duas filhas. Da família de descendência alemã, herdou a paixão por vinhos e gastronomia. Com o marido, veio o empreendedorismo e a distribuição de bebidas em São Leopoldo, Rio Grande do Sul.

No currículo, cursos e conhecimentos diversos. Graduada na área da educação nos anos 80, passando por Secretariado Bilíngue (Unisinos) e mais recentemente um MBA em Inovação, Liderança e Gestão 3.0 (PUC-RS), Delci já trabalhou como professora e por longos anos esteve na indústria.

De 2009 pra cá, a gestão dos negócios tomou conta da sua rotina em definitivo. Atualmente, Delci está à frente da Werle Comercial, um dos maiores e-commerces de bebidas do Brasil. Ela sabe que empreender não é tarefa fácil atualmente, mas o desafio também é seu hobby: “o empreendedor deve estar em constante atualização, sempre atento às tendências de comportamento dos consumidores. Tenho sede por conhecimentos, novidades. Estou sempre me atualizando e de olho no que acontece no mercado!”.

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