homem posando para foto ao lado de cachos de uva

Alemães e vinho: eles estão entre os pioneiros na produção da bebida no RS

Alemães e vinho têm tudo a ver! E julho é o mês em que se completam 197 anos da imigração alemã no Rio Grande do Sul.

 

Se os vinhos gaúchos atualmente são premiados e reconhecidos internacionalmente pela sua qualidade, boa parte desse mérito também se deve aos imigrantes alemães que chegaram ao longo do século 19 ao Rio Grande do Sul, ajudando a povoar as querências e implantando o que o historiador Martin Norberto Dreher classifica como “novo modelo agrícola” no Brasil, baseado em pequenas propriedades rurais e na agricultura familiar. Os germânicos antecederam os italianos e foram responsáveis por cultivar uvas e produzir bebidas, principalmente para o consumo das famílias. Prestes a completar 197 anos da imigração alemã para as terras sulistas no dia 25 de julho, esse legado ainda está presente em vinícolas espalhadas pelas cidades colonizadas por esses homens e mulheres.

A Werle Comercial de Bebidas, parceira do I Love Vinhos, com sede em São Leopoldo/RS (cidade que ostenta o título de berço da colonização alemã no Brasil), também pode ser considerada como uma empresa com raízes germânicas. “Aqui na Werle gostamos de celebrar a imigração alemã, porque esta é a origem da família que dá nome à nossa marca”, destaca a empresária Delci Werle.

 

Destaque no mundo dos vinhos ainda antes dos italianos

Uma carta escrita pelo imigrante alemão Mathias Franzen em 27 de agosto de 1832 e endereçada a seu cunhado Mathias Rockenbach – trazida de volta às terras brasileiras posteriormente e guardada por descendentes – cita inclusive uma praga na época. “Aqui dá muita cana-de-açúcar, também uvas, que são muito atacadas pelas formigas, que comem as uvas e também as folhas”, consta num trecho do texto.

O livro Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul: 1824 – 1934 (Cem anos de Germanidade no Rio Grande do Sul: 1824 – 1934), escrito pelo padre suíço Theodor Amstad, reúne mais informações acerca da produção teuto-brasileira de vinhos. “A vinha ‘imigrou’ com os colonos alemães, fazendo com que o vinho nacional seja um produto genuinamente alemão. Antes da chegada dos alemães, tomava-se no Rio Grande do Sul exclusivamente o pesado vinho português e foi preciso passar mais 20 a 30 anos depois da chegada dos alemães até que o vinho nativo conquistasse aceitação. Um jesuíta espanhol, que por cinquenta anos visitou as duas residências dos padres alemães então existentes, emitiu uma sentença menos elogiosa sobre o primitivo vinho da colônia: ‘Habent vinum, sed est tamquam aqua’. ‘Eles têm vinho, mas é como água’. Tratava se de um espanhol que obviamente estava acostumado com o vinho forte de sua terra natal e por isso mostrou-se tão crítico sobre o vinho das colônias alemãs”, escreveu Amstad.

“O certo é que já os primeiros povoadores alemães, muitos dos quais procedentes do Reno e da Mosela, dedicaram-se à produção de videiras”. A afirmação consta no texto do religioso jesuíta, que é considerado o fundador da primeira cooperativa de crédito no Brasil.

“Com a fundação da Colônia de Feliz, em 1845, iniciou-se aí a produção de vinho não só para o consumo próprio como também para o mercado, já que as características do solo e maior altitude se prestavam especialmente para o cultivo da uva. Obviamente vendia-se o vinho, no início, nas redondezas, a comerciantes ou particulares, garantindo para o Kerb, casamentos e outras comemorações familiares a bebida necessária”, consta num trecho da obra. Amstad cita as famílias Friedrich, Jacobi e Kaspari como produtoras de uvas na “Feliz Alta”, além de Rockenbach na “Feliz Baixa”.

 

A história de Blasio Bervian

Atualmente, o vitivinicultor Blasio Alberto Bervian vive na localidade de Picada Feijão, no interior de Ivoti, e é um exemplo de descendente que deu seguimento à tradição dos seus antepassados.

Bervian foi além e ampliou o seu conhecimento. Ele participou de um programa da Cooperativa Piá que dava apoio para filhos de pequenos agricultores e conseguiu estudar e praticar na Alemanha.

Depois de retornar à sua terra natal, ele aplicou tudo o que aprendeu e montou uma vinícola na propriedade da família, que fabrica vinhos e também outras bebidas derivadas de uvas. O processo de fabricação ocorre dentro de uma histórica casa em estilo enxaimel – estilo de construção típico alemão, que consiste em vigas de madeira verticais, horizontais e diagonais, que são encaixadas e os espaços entre si preenchidos por pedras ou tijolos.

 

Entrevista com Blasio Bervian

homem trabalhando em um vinhedo

Quanto tempo você estudou na Alemanha, em qual região e qual foi o curso que você fez lá? Por qual motivo escolheu aquela região?

Blasio Alberto Bervian – O período de Alemanha foi de cinco anos. Fui para lá por um programa da Cooperativa Piá que dava apoio neste sentido para filhos de pequenos agricultores. Então, por dois anos estive no Norte da Alemanha fazendo estágio em duas famílias diferentes, onde havia agricultura e pecuária. Depois destes dois anos, eu parti para o meu interesse específico, a viticultura. Fiz estágio de um ano numa família no Sul da Alemanha, que tinha 14 hectares de uva, dos quais quatro hectares eram vinificados em casa para comercialização direta da propriedade. Depois deste ano fui para a escola de vitivinicultura em Weinsberg, também no Sul, onde fiz o curso técnico de vitivinicultura, viticultura e enologia.

 

Como despertou o seu interesse por vinhos?

Bervian – Nós sempre tínhamos parreiral em casa, assim como todas as famílias tinham, porque era uma das frutas prediletas dos colonos. Uns só tinham para consumir a fruta e outros então também faziam seus vinhos. A lógica sempre era esta: vinho para os adultos e Spritzbier para crianças e mulheres. Quando eu era criança, meu cunhado até fez uma parreira um pouco maior e isto me marcou também. Assim criei gosto pelo cultivo de uva aqui e aprendi a apreciar vinho no Alemanha.

 

É verdade que o cultivo de uvas brancas é forte na Alemanha?

Bervian – Realmente, o cultivo de uvas brancas para vinho branco tem a hegemonia na Alemanha. Estes dados eu tinha há uns anos atrás na ponta da língua. Mas agora não me lembro tanto destes dados e eles mudaram bastante. O vinho tinto ganhou muito em área cultivada nos últimos anos. Antes era reservado para as melhores áreas em solos mais quentes e regiões mais quentes. Fizeram mais estudos para melhorar o material genético das variedades, o que proporcionou maior cultivo em área. O clima na Alemanha ficou mais quente também, o que proporciona melhores vinhos tintos. A propaganda a favor do vinho tinto também ajudou os viticultores a investirem em tintos.

 

E como foi pra você adaptar o que você aprendeu na Alemanha aqui. Clima diferente, hábitos diferentes etc… Quais são as principais diferenças que você nota?

Bervian – Aqui tudo é diferente, principalmente não temos tanto a cultura de tomar vinho e nem tanto valorizar o que é produzido na própria região. Eles têm um roteiro já traçado, já vem de séculos, lá onde se produz ou não se produz. E o setor tem políticas para isto. Lá são trajetórias de famílias que exploram uma determinada área e vivem muito bem disto. Então, são mundos diferentes.

 

Sobre a Werle Comercial

A exemplo das vinícolas gaúchas, a Werle Comercial nasceu de uma tradição familiar. Desde 1986, a empresa atua no mercado de bebidas (espumantes, vinhos, destilados, sucos, acessórios) em São Leopoldo. Há nove anos, o endereço passou a ser o bairro Feitoria, de onde são administradas as operações. A loja virtual werlecomercial.com.br entrega em todo o território nacional.

 

Por Moacir Fritzen – Jornalista

 

Veja também: Vinho e treino- beber uma taça é o mesmo que uma hora treinando?

Delci Werle é sommelière gaúcha, casada, mãe de duas filhas. Da família de descendência alemã, herdou a paixão por vinhos e gastronomia. Com o marido, veio o empreendedorismo e a distribuição de bebidas em São Leopoldo, Rio Grande do Sul.

No currículo, cursos e conhecimentos diversos. Graduada na área da educação nos anos 80, passando por Secretariado Bilíngue (Unisinos) e mais recentemente um MBA em Inovação, Liderança e Gestão 3.0 (PUC-RS), Delci já trabalhou como professora e por longos anos esteve na indústria.

De 2009 pra cá, a gestão dos negócios tomou conta da sua rotina em definitivo. Atualmente, Delci está à frente da Werle Comercial, um dos maiores e-commerces de bebidas do Brasil. Ela sabe que empreender não é tarefa fácil atualmente, mas o desafio também é seu hobby: “o empreendedor deve estar em constante atualização, sempre atento às tendências de comportamento dos consumidores. Tenho sede por conhecimentos, novidades. Estou sempre me atualizando e de olho no que acontece no mercado!”.

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