Casal de idosos juntos com taças de vinho em mãos

Entre amor e vinhos: a história do Seu Noé e da Dona Hilka

Sentimentos despertam e precisam de boas doses de dedicação para serem preservados, amadurecidos e saboreados ao longo da vida. É necessário acompanhar o desenvolvimento, cuidar, superar dificuldades e fazer com que as safras de perpetuem geração após geração. O marceneiro Noé Reis, 84 anos, sabe bem como perpetuar o amor pela esposa Hilka, 80. Marido e mulher compartilham predileções, mas uma delas se tornou um hábito há vários anos: beber vinho, de preferência vinhos San Severo!

Prestes a completar 61 anos de matrimônio, o casal que mora em São Leopoldo prova que o consumo moderado da bebida faz bem à saúde, agrada o paladar e estimula a convivência familiar. Essa “herança” já passa para as próximas gerações.

O exemplo de valorização do trabalho e da harmonia familiar, aliada com uma linda história de amor como pano de fundo, pode inspirar outras pessoas a também brindarem à vida.

Para celebrar o Dia dos Namorados, apresentamos esta história fofíssima, reproduzida com carinho por nossa parceira Werle Comercial. Inspire-se!

 

Com a palavra, o casal:

Como foi que vocês se conheceram?

Noé – Ela estava indo na rua e eu cheguei nela. Eu conhecia ela de longe, assim, né? De vista. Aí cheguei e conversei com ela. À tardinha eu fui lá pra frente da casa dela e foi indo… Então eu fui embora para Canoas, eu tinha conhecido ali e saí pra arrumar serviço. Arrumei na mesma hora, que era fazer esculturas (em madeira). Era uma firma grande.

 

Quanto tempo vocês namoraram antes de casar?

Noé – Ah, isso foi pouquinho tempo. Eu fui para Canoas para trabalhar. Quando voltei a Rosário do Sul, ela tinha vindo para Porto Alegre. Éramos vizinhos em Rosário do Sul. E quando eu namorei ela… Ela tirou uma foto e me deu. Essa foto eu levo até hoje guardada na carteira.

 

E qual é o segredo para estarem casados há mais de 60 anos?

Hilka – Eu acho que é o companheirismo, estar junto. Antigamente, a gente casava pra ficar com o marido, né? Era isso que incutiam na gente. Vai casar para cuidar da casa e do marido. Hoje em dia não é mais assim. Não sei se é pior ou melhor. Hoje em dia não tem nem casamento, né? É só se juntar. Mas antigamente, a gente tinha que casar. E como eu era órfã de mãe… A minha mãe morreu quando eu era bem pequena e eu fui criada pelos meus irmãos… Deus me livre sair da casa deles sem casar! E foi quando a gente começou a namorar. Ele foi para Porto Alegre e eu fiquei lá (Rosário do Sul). Aí quando ele veio para Rosário eu vim para Porto Alegre. Daí depois ele veio aqui, casou comigo e me levou. E estamos junto até hoje.

Noé – Eu estava sempre dentro da igreja. O velho era muito chegado à igreja. Aí ele falou que, como eu iria ficar sozinho em Porto Alegre, pra casar com ela. Ele pediu para o bispo de São Paulo vir fazer o casamento.

Hilka – Nem foi em igreja, foi feito na sala da casa do meu irmão. Fizeram um altarzinho lá e a gente casou ali. Foi pela igreja, mas não foi na igreja. Aí casamos pela Igreja Metodista. E assim a gente foi. Casamos e estamos bem até hoje graças a Deus.

 

Há quanto tempo vocês moram em São Leopoldo?

Hilka – Há cerca de 38 anos. O Fernando tinha três anos de idade e já vai fazer 41! Primeiro a gente foi de Rosário do Sul pra São Gabriel, de lá para Sapucaia do Sul. Depois então viemos para São Leopoldo. Aqui a gente criou raízes.

 

E o Noé sempre trabalhando com madeira?

Noé – Sempre com marcenaria.

Hilka – Quando a gente chegou aqui, fizemos essa casa ali. Era mista, a marcenaria pra lá e a casa pra cá, de madeira. E veio um temporal no dia 2 de julho, no mesmo ano, voou tudo embora. Ficamos no chão.

Noé – Não havia árvore, nem nada. Era só campo.

Hilka – Reconstruímos tudo de novo. Tinha que pagar o que estava caído e pagar o que estava fazendo. Não foi fácil!

Noé – Quando a gente chegou aqui, eu fui trabalhar na Vidraçaria Estrela, que era do meu irmão, eu era sócio lá. Quando eu comecei a arrumar clientes, eu pedi para trabalhar lá de manhã e de tarde eu ficava só na marcenaria. Antigamente, a gente tinha muito serviço porque havia só seis marcenarias dentro de São Leopoldo. Quando chegava 7 horas da manhã eu ia lá pra vidraçaria e de lá eu vinha a pé, lá da São Borja, é longe. Às vezes, de bicicleta.

 

Nesse tempo todo de união, vocês tiveram quantos filhos?

Hilka – Seis filhos. Agora, temos quatro. Dois já faleceram. Um deles faleceu logo que nasceu. E a Rosi agora já faz vinte e poucos anos que faleceu.

Noé – Eu vou contar uma história agora, que é triste. Mas daí me deu mais ânimo ainda de trabalhar. Cheguei da vidraçaria pra almoçar, de meio-dia, trabalhava só de manhã lá. E ela disse assim: “Eu não tenho comida, não tem nada. Tem só um ovo e um arrozinho”. Voltei para a vidraçaria, conversei com meu irmão. Comecei a construção aqui e comecei a trabalhar. Então veio um serviço atrás do outro. Depois daquilo, eu não parei mais de trabalhar. Trabalhei dia e noite. Eu levantava cinco horas e trabalhava na marcenaria até 7h30 mais ou menos. Começava lá na vidraçaria às 8 horas. Voltava de meio-dia e trabalhava na marcenaria até a meia-noite.

 

E o seu estilo de vida? O senhor está sempre trabalhando, com a esposa do lado. A o quê o senhor atribui essa vitalidade de vocês?

Noé – Eu sempre gostei de trabalhar. Quando eu era novo, trabalhava numa firma americana, a Swift. No tempo da Guerra, a gente fazia a comida para os Estados Unidos, em Rosário do Sul. Quando fechou aquela firma lá, parou a Guerra, né? Acalmou. Aí, eles abandonaram tudo e foram embora. Deixaram tudo para o governo da cidade, para o prefeito. A prefeitura tomou conta de toda aquela imensidade de pavilhões e tudo mais.

 

Então o senhor pensa que tem essa vitalidade porque sempre trabalhou muito?

Noé – Eu acho que nunca parei, desde criança. Eu comecei a trabalhar na lavoura. A gente arrancava ervilhas, tudo a mão, não tinha máquina. Depois vinha o caminhão juntando. Alguns pegavam com uns ganchos grandes e colocavam em cima do caminhão. E o caminhão levava para a Swift. Eles faziam as conservas, né?

Hilka – Ele trabalhou desde criança e se acostumou.

Noé – Depois fui trabalhar na Swift, lá dentro da firma. E trabalhava 18 horas por dia. Pegava às 4 horas da manhã e às vezes soltava às 10 horas da noite.

Hilka – Para ganhar um pouco mais, ele fazia serão.

 

 

E como o senhor começou a fazer os móveis?

Noé – Eu fui servir o Exército. Já fazia um tempão que eu estava lá no Exército. Meu pai trabalhava no Banco Nacional do Comércio. Ele era o caixa. O cliente sempre tinha que conversar com ele. Eu queria ficar no quartel, mas ele não quis. Ele falou com o comandante. Quando eu entrei em forma, aí eles faziam a chamada. Quando chegou a minha vez… Aí o comandante falou: “Seu Noé, o senhor fica fora porque já vai embora”. Eu fiquei desconfiado. Por que vão me botar pra rua? Quando cheguei em casa, meu velho falou: “Eu arrumei serviço pra ti”. Então trabalhei na Varig. Depois, ele falou com o dono de uma fábrica de móveis e no outro dia eu fui pra lá. Eu queria aprender, ficava das 7 horas da manhã até o meio-dia, almoçava e já voltava pra firma, às vezes até a meia-noite. O patrão dizia assim: “Estou indo pra cama”. Ele fechava toda a casa dele, que era na frente da fábrica. E dizia: “Já estou indo pra cama. Quer ficar fica ou ir embora?”. Eu não ganhava nada. Então, eu trabalhava nas máquinas de noite. Não tinha ninguém pra incomodar. E aprendi a fazer esculturas. A primeira coisa que aprendi foi isso: escultura.

Hilka – Te lembra aqueles copeiros que vinha com aquelas esculturas, nas beiradas, de imbuia? Eles faziam aquilo lá. Ele gostou daquilo lá e quis aprender.

Noé – Eu um quarto, um dormitório, para o comandante lá do quartel. Ele foi embora lá para Natal. Antes de ir embora, ele quis fazer móveis assim, todos trabalhados. Eu fiz. Mas era escultura por todo lado. Antigamente usavam muito isso aí, né? A relíquia que o pessoal gostava era isso aí. E eu aprendi ali. Tinha um escultor velho, velhinho já, muito velhinho já. Eu falei com ele e disse: “Eu quero aprender isso aí. Eu lhe pago e o senhor me ensina”. O que eu tirava na fábrica, que ganhava sábado, praticamente eu dava pra ele me ensinar aquilo ali. Isso eu paguei para aprender e aprendi. Fazia os relevos, né? Tudo desenhado. Desenhava tudo primeiro e depois ia com o formol.

 

Desde quando vocês têm o hábito de apreciar vinho?

Noé – Eu fiquei ruim do coração. Eu estava jogando bola e brincando com a gurizada. Era verão, sem tomar água, sem nada. Apaguei duas vezes. Levantava dali, a bola andava lá sabe-se aonde, e eu estava ali. Duas vezes eu apaguei no campo. Aí eu digo para o Nícolas: “Vamos embora que o vô está ruim”. Ele viu quando eu caí. Eu falei com o médico no outro dia. O médico disse: “Amanhã na primeira hora da manhã, vai no cardiologista”. E eu fui. No tratamento, ele me disse assim: “Olha, eu vou te liberar uma coisa: vinho. Não toma outra bebida. Toma vinho, um cálice, não mais do que isso. Era só um cálice, de manhã ou de noite. Então foi isso.

Hilka – E então acostumou e gostou do vinho.

 

E os vinhos San Severo?

Noé – É muito bom esse vinho. Eu prefiro o tinto seco. Acho que já faz uns dois anos que eu tomo.

Hilka – Eu gosto do suave. Não é todo dia, mas é o suave. Ele gosta do seco.

Noé – Se o médico falou que faz bem…

 

 

E o vinho também une as pessoas para celebrar?

 Hilka – Exato. Às vezes, o neto vem e traz uma garrafa de vinho. Eles sentam na mesa com um pedacinho de queijo e vão conversar, contar as coisas dele ali. E tomar um vinhozinho e comer um queijinho, né? É bom, né?

Noé – Seguidamente, ele pergunta como é que eu fazia isso ou aquilo. Está sempre perguntando.

Hilka – Ele gosta de conversar. Então ele bota um vinho na mesa, um queijinho lá e diz: “Vamos conversar vô, vamos lá”. E começa a puxar histórias, sabe?  Do vô dele… E tomando um vinhozinho.

Noé – Eu não tomo mais do que uma taça. E uma taça pequena.

Hilka – Às vezes bota mais um pouquinho, né? Se engana e bota mais um pouquinho. Geralmente é meia taça. Mas, às vezes, sabe como é. Daí conversa… E bota mais um pouquinho.

 

E essas tradições familiares, tanto do apreço pelos trabalhos em madeira quando pelos vinhos, passa de geração em geração?

Hilka – Sim. O meu pai gostava muito de vinho também. Comprava garrafão de vinho pra tomar. Nós gostamos. Meu filho gosta muito de vinho. O neto também.

 

 

Com o amor do Seu Noé e da Dona Hilka, desejamos um Feliz Dia dos Namorados!

 

Por Moacir Fritzen – Jornalista

I Love Vinhos

Nosso nome fala tudo sobre nós. Somos apaixonados por vinhos.

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